Wednesday 15 August 2007

Agosto, 15 - Braga (960 km)

Um dia mais tranquilo que o de ontem apesar de o cansaço acumulado se começar a fazer sentir. A noite também não foi a mais pacífica pois dormir com a janela aberta para atenuar o calor que se fazia sentir no quarto acabou por ter o incoveniente de me fazer acordar umas quantas vezes com diversos barulhos lá fora. Não faço ideia o que andaria aquela gente a fazer a abrir e fechar portões, aos berros, a correr de um lado para o outro, etc. Se calhar sonhei...

Seja como for, levantei-me às 7h45 cheio de vontade de seguir caminho (e com uma incomodativa mas ligeira dor de cabeça), caminho esse que planeei fazer até Braga, tencionando chegar à hora do almoço. Assim foi, arrepiando caminho por São João da Pesqueira novamente e tendo agora oportunidade de fotografar aquela zona ali perdida do leito do Douro, como se vê na fotografia abaixo.
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Douro perto de São João da Pesqueira

De notar que também a chuva decidiu fazer a sua aparição, ao fim de três dias quase sempre de sol brilhante, embora não me tenha incomodado a viagem nem tornado as coisas consideravelmente mais perigosas. Desde São João da Pesqueira até à Régua a estrada segue sempre a margem do Douro e foi certamente dos troços mais bonitos que fiz até agora. Uma vez na Régua atravessei para o outro lado e segui até perto de Mesão Frio e em seguida direito a Norte passando consecutivamente por Amarante, Lixa, Felgueiras, Guimarães e finalmente Braga. Como tudo estava a correr na normalidade e sem soluços de maior acabei por fazer toda a viagem seguida e só quando cheguei a Braga por volta das 12h30 é que me apercebi que se calhar devia ter parado pelo caminho. Afinal de contas foram 4 horas praticamente seguidas de viagem, apenas entrecortadas por breves paragens para tirar fotografias. Tendo em conta que já lá vão praticamente 1000 km (amanhã será dia de celebrar essa meta, se tudo continuar a correr bem), é natural que já vá pesando no corpo.

Encontrar o Ibis ainda deu alguma luta pois por patetice não me lembrei de anotar quaisquer indicações dentro de Braga mas ao fim de um quarto de hora lá encontrei um placard publicitário com a indicação. A partir daí tudo ficou mais fácil e o hotel fica mesmo no centro da cidade, ou perto disso. Confesso que me senti um pouco deprimido pois é a primeira vez que fico algum tempo, nesta viagem, dentro de uma cidade grande (o hotel em Castelo Branco ficava fora do centro, no topo de um monte) e isso aliado ao facto do Ibis ser metido num prédio já antigo torna as coisas mais... "obscuras". É tudo mais apertado, mais sombrio, menos respirável. E veio certamente reavivar aquela "comichão" para me fazer à estrada e seguir em diante.

De qualquer forma pode ter as suas vantagens, pois sabia da existência de alguns restaurantes vegetarianos na cidade e depois de uma rápida pesquisa assim que fiz check-in percebi que dois deles são muito perto do hotel. Fiz-me ao caminho a pé na direcção de um deles mas por ser feriado estava fechado. Como o outro ficava na direcção oposta partindo do hotel, decidi não tentar esse fazendo fé que estaria também fechado, até porque pelo caminho descobri o Braga Shopping e uma casa de pizzas que me pareceu muito bem. No regresso passei lá e não me enganei. A pizza Al Tonno estava muito boa e deu para ler o jornal enquanto comia, algo que sempre gostei de fazer (e sempre me ensinaram que não devia fazer ;-)).

O quarto em si não é nada mau, até tem uma cama de casal por isso posso dormir de braços e pernas abertas, haha. Felizmente a PT-Wifi é omnipresente e a secretária serve perfeitamente... mas que raio de vista da janela é esta?!

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Vista "paradisíaca" do quarto do hotel Ibis em Braga

De qualquer forma, como já vai sendo tradição nos posts anteriores, a estação de trabalho vai na sua terceira encarnação fora de portas...

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Quarto do hotel Ibis em Braga

Os planos reais eram ir até Paredes de Coura depois do almoço, estarão os mais atentos a pensar. Pois era e eu detesto cortar-me ao que me proponho fazer mas vários factores de peso fizeram-me reconsiderar e ficar pelo hotel durante a tarde:

a) apanhei muita chuva pelo caminho e tudo indica que o recinto do festival deva estar um lamaçal;
b) o cansaço desaconselhava fazer 120 km de ida e volta e regressar sabe-se lá a que horas da madrugada;
c) ainda são 40 EUR para entrar.

Então optei por ficar a ver a última etapa da Volta, que teve no final Xavier Tondo como grande vencedor. Mais um ano que não foi o do Cândido. O meu ciclista era o Azevedo mas desde a primeira hora percebi que não era a Volta dele... não me enganei. Aprendi a admirar o Zé Azevedo desde os seus dias no Tour na equipa Once a ajudar Joseba Beloki, depois como "anjo da guarda" do Lance Armstrong e lia todos os dias o diário dele publicado n'A Bola. A sua humildade marcou-me e desde então passei a apoiá-lo sempre. Mesmo nesta volta, depois de não ter tido pernas ontem na Torre, foi o primeiro a elogiar a equipa, dizendo que nada lhe faltou e que foi pura e simplesmente ele que não teve força. Faz falta campeões assim. Fica para o ano, Zé!

Agora gostava muito de avançar na tradução do FM e se possível terminá-la hoje. Moralizava-me imenso... mas e a vontade? Onde é que ela está?

Ah, e notem a nova funcionalidade, cada post agora está acompanhado de uma imagem ilustrativa da rota percorrida até agora. Assim dá para contextualizar melhor ;-)

Amanhã, tour do Minho, hajam forças para isso. Há-de haver.

[Mais tarde...] Fui ao Pingo Doce, no BragaShopping, comprar água e acabei por comprar dois livros da Taschen a 4,50 EUR cada: Picasso e Escher. E no regresso ao quarto, um email de Londres: mais um pedaço de tradução nova. Nem o abri ainda só para não me arrepiar com o tamanho... lá se foi a possibilidade terminar aquilo esta noite...

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