Tuesday 14 August 2007

Agosto, 14 - Pombal de Ansiães (784 km)

Parece-me bem que as minhas preces foram ouvidas e a coisas tornaram-se hoje bem mais duras e interessantes...

Saí de Castelo Branco por voltas das 9h35 depois de um pequeno almoço que continuou ao nível fantástico daquele restaurante, tal como já tinha mencionado no post de ontem. As dificuldades começaram logo à saída de Castelo Branco pois não consegui, por mais voltas que desse, encontrar a estrada nacional para o Fundão. Acabei por me resignar a enveredar pela auto-estrada com a promessa a mim mesmo que optaria pela primeira saída. Assim fiz e aí facilmente segui pela nacional que se estende paralelamente e bem junto à auto-estrada.

Daí até ao Fundão foi rápido, atravessando parte da Serra da Gardunha e depois disso a Covilhã. A imponência da Serra da Estrela nunca deixa de me surpreender e à medida que ia subindo em direcção à Torre, a paisagem tornava-se cada vez mais esmagadora. Somos realmente pequenos perante aquilo.

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Serra da Estrela

Sabia que os ciclistas iriam subir pelo lado de Seia e eu neste caso subi pelo lado da Covilhã. Os dois caminhos encontram-se perto da Torre e à medida que me aproximei desse ponto de encontro foi aumentando exponencialmente o número de pessoas na berma, uns acampados, outros sentados a comer e muita gente em tronco nu e a beber logo aquela hora, ainda antes do almoço. Claro está, quando cheguei ao entroncamento antes da Torre a confusão era tal com GNR à mistura que não me deixaram prosseguir para a Torre de carro claro está.

Nesta altura debatia-me entre a vontade de ficar por ali para assistir à passagem dos corredores umas cinco horas depois ou seguir a razão e apontar baterias para a ainda longa viagem até para lá do Douro. Ainda pensei em ir até Viseu fazer tempo mas a sensatez acabou por prevalecer e segui caminho para o destino final do dia.

Continuei assim a atravessar a serra, descendo parte do percurso que a Volta iria subir mais tarde e deparei-me com várias carrinhas paradas em vários pontos do caminho de tantos em tantos quilómetros. Era parte da organização da Volta e estavam a colocar barreiras ao longo da berma para delimitar a estrada para os ciclistas. Logo na primeira que encontro, incrivelmente parada imediatamente antes de uma curva apertada, deixei-me ficar parado à espera que avançasse pois não sabia se haviam carros à frente. Nisto começa a mexer-se em marcha atrás. Sabe-se lá como, ainda tive o instinto de engrenar a marcha-atrás e andar um pouco para trás. Mesmo assim, tocou-me ainda forte com a traseira na minha frente. Do carro saem dois espanhóis, provavelmente de uma empresa qualquer contratada para fazer aquilo, a desfazerem-se em desculpas, com as mãos na cabeça. O diálogo que se seguiu foi mais ou menos nesta linha:

Ele: Perdóneme, no lo vi!
(Eu fico a olhar para ele sem emitir um som a pensar porque raio me havia de sair um espanhol)
Ele: Dame los papeles...
(Por papéis supus que fossem para fazer uma declaração amigável de acidente. Como já tive antes em situações parecidas, antes de começar a vasculhar o porta-luvas decidi ir ver como estava a coisa... não tinha nem um risco felizmente, viva o pára-choques)
Eu: Tranquilo, no pasa nada...
Ele: Seguro?
Eu: Si, no pasa nada, no hay problemo.

Sim, eu falei em espanhol. Como se vê, não percebo um chavo de espanhol, quanto mais falar. Mas ali resolveu-se a questão e eu segui caminho. Continuei a descer e depois desviei-me para as Penhas Douradas e posteriormente em direcção a Gouveia não sem antes tirar a foto que se vê acima, entre outras. Em Gouveia voltei a pôr gasóleo num Intermarché, por 1,030 EUR/litro, o que é fantástico. Espero colocar gasóleo em Espanha quando der a volta ao Minho na quinta-feira. Ou então não. Aproveitei também para comprar pão e queijo e decidi improvisar almoço pelo caminho em vez de ir comer a algum lado que não me inspirasse confiança. Parei em Celorico da Beira, a bucha ficou a matar e segui em direcção a sabe-se lá onde.

Aqui começaram as reais dificuldades, sobretudo depois de Trancoso. O terreno ficou muito acidentado, de uma forma mais desconfortável ainda que na Estrela e em cada terra que passava inevitavelmente perdia o rumo da nacional que vinha a seguir até ali. Umas vezes por falta de indicações outras por cansaço e falta de atenção, perdi-me no mínimo umas três ou quatro vezes. Valeu a fantástica vista depois de São João da Pesqueira, onde cruzei o Douro num sítio assim a puxar para a paradisíaco, com vinhas em socalcos por todo o lado. A estrada até Carrazeda de Ansiães, depois de subir serra acima melhorou um pouco mas encontrar Pombal foi outra vez o cabo dos trabalhos. Sabia que não era suposto chegar até Carrazeda mas mesmo assim fui lá bater. Voltei atrás e não me conseguia entender com o mapa, nada fazia sentido. Acabei por ir ter a uma aldeia chamada Parambos, onde um cartaz me relembro que afinal não é só em Torres Vedras e arredores que há Sportinguistas aos magotes.

DSC00227.JPG
Lagartagem!

Aqui perguntei a um rapaz que basicamente me salvou o dia. Graças às suas indicações (embora ele não parecesse muito convicto do que estava a dizer), cheguei a Pombal e ao dito Hotal Rural Flor do Monte. As condições são mais uma vez muito agradáveis e esta zona merece ser explorada. Mas como já disse, a ideia pelo menos nesta viagem não é esta e infelizmente - ou não - os hóteis são sobretudo sítios para pernoitar. Montei o estaminé como é habitual e depois fui jantar, dois medalhões de pescada fritos com arroz de feijão que não chegando ao sublime que foi o jantar de ontem serviram muito bem.

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Quarto do Hotel Rural Flor do Monte

Amanhã é outro dia e vamos ver se a dificuldade vai continuar a aumentar. Não espero outra coisa aqui tão em cima onde há milhões de estradas e serras por todo o lado. A ideia, ainda sujeita a alterações, é sair o mais cedo possível e chegar a Braga à hora do almoço. Fazer o check-in e almoçar e depois seguir para Paredes de Coura chegando antes das 18h00 para apanhar os Linda Martini. O desafio esse vai ser mesmo até Braga estou em querer... especialmente sendo a ideia ir acompanhando a margem do Douro até Mesão Frio ou Peso da Régua.

Amanhã logo se vê! Por enquanto, tudo bem (mesmo com o braço esquerdo queimado do sol por razões óbvias... foram trezentos e tal km ;-))

1 comment:

Enolough said...

"logo à saída de Castelo Branco pois não consegui, por mais voltas que desse, encontrar a estrada nacional para o Fundão."
É a cidade mais difícil de se sair no Portugal todo. Dás voltas, voltas ao mesmo sítio e sais do avesso...

"Eu: Tranquilo, no pasa nada...
Ele: Seguro?
Eu: Si, no pasa nada, no hay problemo."

.-.. --- .-.. [em Morse]

Linda Martini vêm tocar aqui para os nossos lados em breve :)