Friday 17 August 2007

Agosto, 17 - Torres Vedras (1584 Km)

Regresso a casa sem estórias, sem fotos e sem grandes sobressaltos. Cansado, em parte feliz por regressar, em parte triste por o fazer.

É a primeira vez que tenho num blog um sentido de completude, de fecho. Começou no domingo passado e encerra hoje o seu propósito definitivamente.

Nada se perde, nada se ganha, tudo se transforma, certo?

Veremos.

Thursday 16 August 2007

Agosto, 16 - Porto (1212 Km)

E assim fica provado que uma noite dormida numa boa cama, num hotel sossegado e durante oito horas seguidas sem interrupções pode fazer maravilhas a uma pessoa. O cansaço todo do dia inteiro como que se dissipou e hoje arranquei com a energia toda. Já tinha deixado tudo completamente arrumado na noite anterior (um hábito que percebi me trás alguma paz de espírito em terras longe de casa, vá-se lá saber porquê) e por isso rapidamente abandonei o hotel. Optei por ir tomar o pequeno-almoço fora e fui ao Vianna na praça principal de Braga comer uma torrada e beber um capuccino enquanto lia A Bola (ainda não foi desta, Pedro ;-)). Estavam tudo óptimo e foi mais um suplemento de energia bem necessário para a viagem.

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Café Vianna, Braga

O plano foi seguido mais ou menos à risca, pelo que "levantei ferro" em direcção a Monção bem no topo do nosso país junto ao Rio Minho que nos separa de "nuestros hermanos" por aquele lado. Por ingenuidade pensei que ia encontrar aldeias e vilas perdidas e desertas mas o que encontrei, especialmente em Monção e Valença do Minho, foram resmas de turistas, especialmente franceses e emigrantes. Como não dispunha do tempo todo do mundo - propunha-me ir descobrir um restaurante vegetariano em Caminha - optei por não parar e apenas dar uma breve e curta volta pelo centro dessas terras. Ao sair de Valença deparei-me com uma fila atípica e lembrei-me de uma informação de trânsito há uns dias que dizia que por causa de obras entre Valença e Vila Nova de Cerveira, havia filas de 4 Km para cada lado. Verificando-se isso hoje ou não optei por jogar pelo seguro - mais ou menos... - e atalhar caminho por outro lado. Com a ajuda do mapa lá segui um caminho mais longo alternativo e cheguei passado pouco tempo a Cerveira depois um cross-country para mais tarde recordar.

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1000 Km de viagem cumpridos às 10:46 da manhã

Não havia tempo para visitar Cerveira convenientemente pelo que continuei até Caminha. Encontrar o restaurante, apesar de ter a morada assente no bloco de notas, não foi nada fácil e decidi pedir ajuda a um mecânico que estava à porta da sua oficina. Apesar de não conhecer o restaurante pelo nome, o senhor prontificou-se a ir buscar um mapa de Caminha e assim vimos a localização da dita rua. Ele perdeu-se em explicações que só me confundiam, apesar de toda a sua boa vontade notória, pelo que lhe pedi se me dispensava o mapa o que ele também generosamente fez. Assim rapidamente encontrei o restaurante e ainda cheguei às horas que me propus (passando por Espanha rapidamente, para pôr gasóleo em Tui).

O restaurante só visto. Faz parte de um empreendimento chamado Botica das Carlotas que actualmente conta, além do restaurante, com uma loja de produtos naturais e consultas de naturopatia e acupunctura, entre outras coisas. À entrada vi a ementa num ardósia e agradou-me, subi as escadas e vi uma senhora, uma rapariga e um rapaz com tipo de donos da coisa mas numa sala pequena com a cozinha anexa de forma aberta. Disseram-me logo para entrar, para estar à vontade e assim fiz, pois rapidamente me senti em casa. São pessoas que, pelo que conversámos, partilham exactamente da minha (e da minha família mais próxima) filosofia no que diz respeito à alimentação e aparentemente em relação à medicina. A comida em si foi fantástica e uma fotografia (ou duas, vá) diz mais que mil palavras.

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Tofu com Legumes Salteados na Botica das Carlotas em Caminha

Já passava das três horas mas antes de abandonar Caminha senti que devia retribuir a generosidade e aproveitando para andar um pouco a pé e ajudar à digestão (estava cheio até não poder mais) foi ter à oficina do dito senhor e devolvi-lhe o mapa agradecendo os préstimos. Ele ficou feliz e eu também. Todos ganharam e eu almocei a tempo e horas no sítio certo. Pelo caminho até lá telefonei para o hotel onde tinha ficado quando fui ver Dream Theater, junto ao Coliseu, e aceitaram-me a reserva, guardando o quarto até às oito da noite. De forma a não correr riscos, optei por seguir pelo IC1 até Viana do Castelo mas vendo o trânsito caótico na periferia da cidade decidiu seguir o resto da caminho até ao Porto pela A28. Cheguei por volta das 16h30 e mais uma luta para me lembrar do caminho certo para a Rua Passos Manuel, ainda para mais entrando no Porto pelo Norte. Depois de enganos e desenganos finalmente cheguei ao sítio certo, meti o carro na garagem do costume e vim para o Hotel. Entretanto só saí para ir tirar umas fotografias à Avenida dos Aliados, já ali ao fundo da rua, visitar a FNAC aqui mesmo a escassos metros e comprar uma tripla para poder ligar mais do que uma coisa à única tomada disponível no quarto (claustrofóbico, devo dizer...). Mas depois de ligar a Playstation, então não é que o raio da TV apesar de ter entrada SCART não tem depois maneira de meter a TV em AV?! Tentei de tudo e nunca tinha visto uma coisa assim. Ainda estou a digerir o desapontamento de não poder fazer umas jogatanas de Pro ainda para mim depois de ter começado uma liga nova ontem, cheio de moral...

Aproveitei para converter a desilusão em motivação e dei um bom avanço na tradução. Vou dar-lhe mais um bocado antes de ir dormir e noto que entretanto o meu padrão de sono já está bastante regular e no sítio que devia ter estado antes de começar a viagem. Vou aproveitar e tentar dormir mais uma noite boa, apesar dos barulhos que vêm da rua (estou no primeiro andar sobre uma rua particularmente movimentada).

Ah, falta a foto tradicional...

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Quarto do Residencial Escondidinho, Porto

É impressão minha ou os quartos têm vindo sempre a piorar de dia para dia? :-/

Amanhã... para casa.

Wednesday 15 August 2007

Agosto, 15 - Braga (960 km)

Um dia mais tranquilo que o de ontem apesar de o cansaço acumulado se começar a fazer sentir. A noite também não foi a mais pacífica pois dormir com a janela aberta para atenuar o calor que se fazia sentir no quarto acabou por ter o incoveniente de me fazer acordar umas quantas vezes com diversos barulhos lá fora. Não faço ideia o que andaria aquela gente a fazer a abrir e fechar portões, aos berros, a correr de um lado para o outro, etc. Se calhar sonhei...

Seja como for, levantei-me às 7h45 cheio de vontade de seguir caminho (e com uma incomodativa mas ligeira dor de cabeça), caminho esse que planeei fazer até Braga, tencionando chegar à hora do almoço. Assim foi, arrepiando caminho por São João da Pesqueira novamente e tendo agora oportunidade de fotografar aquela zona ali perdida do leito do Douro, como se vê na fotografia abaixo.
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Douro perto de São João da Pesqueira

De notar que também a chuva decidiu fazer a sua aparição, ao fim de três dias quase sempre de sol brilhante, embora não me tenha incomodado a viagem nem tornado as coisas consideravelmente mais perigosas. Desde São João da Pesqueira até à Régua a estrada segue sempre a margem do Douro e foi certamente dos troços mais bonitos que fiz até agora. Uma vez na Régua atravessei para o outro lado e segui até perto de Mesão Frio e em seguida direito a Norte passando consecutivamente por Amarante, Lixa, Felgueiras, Guimarães e finalmente Braga. Como tudo estava a correr na normalidade e sem soluços de maior acabei por fazer toda a viagem seguida e só quando cheguei a Braga por volta das 12h30 é que me apercebi que se calhar devia ter parado pelo caminho. Afinal de contas foram 4 horas praticamente seguidas de viagem, apenas entrecortadas por breves paragens para tirar fotografias. Tendo em conta que já lá vão praticamente 1000 km (amanhã será dia de celebrar essa meta, se tudo continuar a correr bem), é natural que já vá pesando no corpo.

Encontrar o Ibis ainda deu alguma luta pois por patetice não me lembrei de anotar quaisquer indicações dentro de Braga mas ao fim de um quarto de hora lá encontrei um placard publicitário com a indicação. A partir daí tudo ficou mais fácil e o hotel fica mesmo no centro da cidade, ou perto disso. Confesso que me senti um pouco deprimido pois é a primeira vez que fico algum tempo, nesta viagem, dentro de uma cidade grande (o hotel em Castelo Branco ficava fora do centro, no topo de um monte) e isso aliado ao facto do Ibis ser metido num prédio já antigo torna as coisas mais... "obscuras". É tudo mais apertado, mais sombrio, menos respirável. E veio certamente reavivar aquela "comichão" para me fazer à estrada e seguir em diante.

De qualquer forma pode ter as suas vantagens, pois sabia da existência de alguns restaurantes vegetarianos na cidade e depois de uma rápida pesquisa assim que fiz check-in percebi que dois deles são muito perto do hotel. Fiz-me ao caminho a pé na direcção de um deles mas por ser feriado estava fechado. Como o outro ficava na direcção oposta partindo do hotel, decidi não tentar esse fazendo fé que estaria também fechado, até porque pelo caminho descobri o Braga Shopping e uma casa de pizzas que me pareceu muito bem. No regresso passei lá e não me enganei. A pizza Al Tonno estava muito boa e deu para ler o jornal enquanto comia, algo que sempre gostei de fazer (e sempre me ensinaram que não devia fazer ;-)).

O quarto em si não é nada mau, até tem uma cama de casal por isso posso dormir de braços e pernas abertas, haha. Felizmente a PT-Wifi é omnipresente e a secretária serve perfeitamente... mas que raio de vista da janela é esta?!

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Vista "paradisíaca" do quarto do hotel Ibis em Braga

De qualquer forma, como já vai sendo tradição nos posts anteriores, a estação de trabalho vai na sua terceira encarnação fora de portas...

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Quarto do hotel Ibis em Braga

Os planos reais eram ir até Paredes de Coura depois do almoço, estarão os mais atentos a pensar. Pois era e eu detesto cortar-me ao que me proponho fazer mas vários factores de peso fizeram-me reconsiderar e ficar pelo hotel durante a tarde:

a) apanhei muita chuva pelo caminho e tudo indica que o recinto do festival deva estar um lamaçal;
b) o cansaço desaconselhava fazer 120 km de ida e volta e regressar sabe-se lá a que horas da madrugada;
c) ainda são 40 EUR para entrar.

Então optei por ficar a ver a última etapa da Volta, que teve no final Xavier Tondo como grande vencedor. Mais um ano que não foi o do Cândido. O meu ciclista era o Azevedo mas desde a primeira hora percebi que não era a Volta dele... não me enganei. Aprendi a admirar o Zé Azevedo desde os seus dias no Tour na equipa Once a ajudar Joseba Beloki, depois como "anjo da guarda" do Lance Armstrong e lia todos os dias o diário dele publicado n'A Bola. A sua humildade marcou-me e desde então passei a apoiá-lo sempre. Mesmo nesta volta, depois de não ter tido pernas ontem na Torre, foi o primeiro a elogiar a equipa, dizendo que nada lhe faltou e que foi pura e simplesmente ele que não teve força. Faz falta campeões assim. Fica para o ano, Zé!

Agora gostava muito de avançar na tradução do FM e se possível terminá-la hoje. Moralizava-me imenso... mas e a vontade? Onde é que ela está?

Ah, e notem a nova funcionalidade, cada post agora está acompanhado de uma imagem ilustrativa da rota percorrida até agora. Assim dá para contextualizar melhor ;-)

Amanhã, tour do Minho, hajam forças para isso. Há-de haver.

[Mais tarde...] Fui ao Pingo Doce, no BragaShopping, comprar água e acabei por comprar dois livros da Taschen a 4,50 EUR cada: Picasso e Escher. E no regresso ao quarto, um email de Londres: mais um pedaço de tradução nova. Nem o abri ainda só para não me arrepiar com o tamanho... lá se foi a possibilidade terminar aquilo esta noite...

Tuesday 14 August 2007

Agosto, 14 - Pombal de Ansiães (784 km)

Parece-me bem que as minhas preces foram ouvidas e a coisas tornaram-se hoje bem mais duras e interessantes...

Saí de Castelo Branco por voltas das 9h35 depois de um pequeno almoço que continuou ao nível fantástico daquele restaurante, tal como já tinha mencionado no post de ontem. As dificuldades começaram logo à saída de Castelo Branco pois não consegui, por mais voltas que desse, encontrar a estrada nacional para o Fundão. Acabei por me resignar a enveredar pela auto-estrada com a promessa a mim mesmo que optaria pela primeira saída. Assim fiz e aí facilmente segui pela nacional que se estende paralelamente e bem junto à auto-estrada.

Daí até ao Fundão foi rápido, atravessando parte da Serra da Gardunha e depois disso a Covilhã. A imponência da Serra da Estrela nunca deixa de me surpreender e à medida que ia subindo em direcção à Torre, a paisagem tornava-se cada vez mais esmagadora. Somos realmente pequenos perante aquilo.

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Serra da Estrela

Sabia que os ciclistas iriam subir pelo lado de Seia e eu neste caso subi pelo lado da Covilhã. Os dois caminhos encontram-se perto da Torre e à medida que me aproximei desse ponto de encontro foi aumentando exponencialmente o número de pessoas na berma, uns acampados, outros sentados a comer e muita gente em tronco nu e a beber logo aquela hora, ainda antes do almoço. Claro está, quando cheguei ao entroncamento antes da Torre a confusão era tal com GNR à mistura que não me deixaram prosseguir para a Torre de carro claro está.

Nesta altura debatia-me entre a vontade de ficar por ali para assistir à passagem dos corredores umas cinco horas depois ou seguir a razão e apontar baterias para a ainda longa viagem até para lá do Douro. Ainda pensei em ir até Viseu fazer tempo mas a sensatez acabou por prevalecer e segui caminho para o destino final do dia.

Continuei assim a atravessar a serra, descendo parte do percurso que a Volta iria subir mais tarde e deparei-me com várias carrinhas paradas em vários pontos do caminho de tantos em tantos quilómetros. Era parte da organização da Volta e estavam a colocar barreiras ao longo da berma para delimitar a estrada para os ciclistas. Logo na primeira que encontro, incrivelmente parada imediatamente antes de uma curva apertada, deixei-me ficar parado à espera que avançasse pois não sabia se haviam carros à frente. Nisto começa a mexer-se em marcha atrás. Sabe-se lá como, ainda tive o instinto de engrenar a marcha-atrás e andar um pouco para trás. Mesmo assim, tocou-me ainda forte com a traseira na minha frente. Do carro saem dois espanhóis, provavelmente de uma empresa qualquer contratada para fazer aquilo, a desfazerem-se em desculpas, com as mãos na cabeça. O diálogo que se seguiu foi mais ou menos nesta linha:

Ele: Perdóneme, no lo vi!
(Eu fico a olhar para ele sem emitir um som a pensar porque raio me havia de sair um espanhol)
Ele: Dame los papeles...
(Por papéis supus que fossem para fazer uma declaração amigável de acidente. Como já tive antes em situações parecidas, antes de começar a vasculhar o porta-luvas decidi ir ver como estava a coisa... não tinha nem um risco felizmente, viva o pára-choques)
Eu: Tranquilo, no pasa nada...
Ele: Seguro?
Eu: Si, no pasa nada, no hay problemo.

Sim, eu falei em espanhol. Como se vê, não percebo um chavo de espanhol, quanto mais falar. Mas ali resolveu-se a questão e eu segui caminho. Continuei a descer e depois desviei-me para as Penhas Douradas e posteriormente em direcção a Gouveia não sem antes tirar a foto que se vê acima, entre outras. Em Gouveia voltei a pôr gasóleo num Intermarché, por 1,030 EUR/litro, o que é fantástico. Espero colocar gasóleo em Espanha quando der a volta ao Minho na quinta-feira. Ou então não. Aproveitei também para comprar pão e queijo e decidi improvisar almoço pelo caminho em vez de ir comer a algum lado que não me inspirasse confiança. Parei em Celorico da Beira, a bucha ficou a matar e segui em direcção a sabe-se lá onde.

Aqui começaram as reais dificuldades, sobretudo depois de Trancoso. O terreno ficou muito acidentado, de uma forma mais desconfortável ainda que na Estrela e em cada terra que passava inevitavelmente perdia o rumo da nacional que vinha a seguir até ali. Umas vezes por falta de indicações outras por cansaço e falta de atenção, perdi-me no mínimo umas três ou quatro vezes. Valeu a fantástica vista depois de São João da Pesqueira, onde cruzei o Douro num sítio assim a puxar para a paradisíaco, com vinhas em socalcos por todo o lado. A estrada até Carrazeda de Ansiães, depois de subir serra acima melhorou um pouco mas encontrar Pombal foi outra vez o cabo dos trabalhos. Sabia que não era suposto chegar até Carrazeda mas mesmo assim fui lá bater. Voltei atrás e não me conseguia entender com o mapa, nada fazia sentido. Acabei por ir ter a uma aldeia chamada Parambos, onde um cartaz me relembro que afinal não é só em Torres Vedras e arredores que há Sportinguistas aos magotes.

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Lagartagem!

Aqui perguntei a um rapaz que basicamente me salvou o dia. Graças às suas indicações (embora ele não parecesse muito convicto do que estava a dizer), cheguei a Pombal e ao dito Hotal Rural Flor do Monte. As condições são mais uma vez muito agradáveis e esta zona merece ser explorada. Mas como já disse, a ideia pelo menos nesta viagem não é esta e infelizmente - ou não - os hóteis são sobretudo sítios para pernoitar. Montei o estaminé como é habitual e depois fui jantar, dois medalhões de pescada fritos com arroz de feijão que não chegando ao sublime que foi o jantar de ontem serviram muito bem.

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Quarto do Hotel Rural Flor do Monte

Amanhã é outro dia e vamos ver se a dificuldade vai continuar a aumentar. Não espero outra coisa aqui tão em cima onde há milhões de estradas e serras por todo o lado. A ideia, ainda sujeita a alterações, é sair o mais cedo possível e chegar a Braga à hora do almoço. Fazer o check-in e almoçar e depois seguir para Paredes de Coura chegando antes das 18h00 para apanhar os Linda Martini. O desafio esse vai ser mesmo até Braga estou em querer... especialmente sendo a ideia ir acompanhando a margem do Douro até Mesão Frio ou Peso da Régua.

Amanhã logo se vê! Por enquanto, tudo bem (mesmo com o braço esquerdo queimado do sol por razões óbvias... foram trezentos e tal km ;-))

Monday 13 August 2007

Agosto, 13 - Castelo Branco (391 km)

Depois das previsíveis dificuldades em adormecer mais cedo na noite anterior, lá consegui acordar por voltas das oito, tomar um duche e orientar as coisas para sair. O Tiago, como habitualmente, também estava de saída para o SCUE a essa hora e decidimos ir ao bar do CES para tomar o pequeno-almoço. O problema foi chegar lá e estar fechado. Como ele já tinha comido qualquer coisa em casa e as horas apertavam, encaminhou-se para o SCUE e eu segui o meu caminho. Fui ao Intermarchê comprar alguma fruta e umas barras de cereais para o que der e vier, além de um par de garrafas de água. Aproveitei para tomar o pequeno-almoço por lá (que me soube bem, uma torrada, um folhado de maçã e um sumo) e ainda passei por casa para trazer comigo algum chá e a cafeteira eléctrica. Assim posso fazer chá em qualquer hotel e isso pode dar jeito.

Segui então viagem em direcção a Estremoz pela N18 e depois pela N4. Passei por Evoramonte sem parar mas fiquei um pouco arrependido pois aquela hora o castelo visto cá de baixo estava envolto em Nevoeiro e talvez tivesse conseguido umas fotografias interessantes. Decidi vingar-me em Estremoz e entrei para dentro da vila em direcção ao Castelo. Uma vez lá em cima descobri que mesmo lá no alto existe uma Pousada de Portugal, no caso a Pousada da Rainha Santa Isabel. A vista era interessante, embora não tão esmagadora como a que se tem do alto do Castelo de Montemor.

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Pousada da Rainha Santa Isabel, Estremoz

Indo contra o que tinha definido no itinerário do viamichelin.com decidi prescindir do IP2 até Portalegre em direcção a norte e em vez disso segui pela N245 passando sucessivamente por Sousel, Fronteira, Alter do Chão, Crato até chegar a Nisa. Por todas estas terras, encontrei um factor comum: o proverbial banco à beira da estrada junto ao café principal da terra repleto de idosos à conversa.

Uma vez em Nisa, deparei-me com algumas indicações para barragens nas redondezas que decidi seguir. A dada altura tive de optar entre duas barragens diferentes, do Poio ou da Póvoa e inicialmente decidi-me pela primeira que acabou por ser muito pequena e não ter qualquer interesse. Depois de ter andado uns minutos ligeiramente perdido acabei por ir ter à outra barragem, a da Póvoa, e essa compensou largamente o engano.

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Barragem da Póvoa, Nisa

Depois de algum tempo a admirar aquela paisagem fantástica - não esperava encontrar já por estas bandas algo assim inspirador - regressei a Nisa de forma a seguir viagem em direcção a Castelo Branco. Pelo caminho havia que cruzar o Tejo, em Vila Velha de Rodão, que parecia um rio diferente daquele que está tão perto de casa logo ali em Lisboa e que estou habituado a atravessar tantas vezes, seja pela Ponte Vasco da Gama, seja pela Ponte 25 de Abril. Foi de facto uma sensação estranha, mas a paisagem era das mais bonitas que visitei desde que saí ontem de Torres Vedras.

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Ponte sobre o Tejo, Vila Velha de Rodão

Depois de me ter queixado para mim próprio que estava farto das longas rectas do Alentejo, as minhas preces foram ouvidas, já que a aproximação a Vila Velha de Rodão foi bastante sinuosa tanto a subir como depois a descer. Depois de cruzar o Tejo segui então para Castelo Branco onde cheguei perto das duas da tarde. Por onde entrei na cidade encontrei logo com facilidade o hotel mas decidi seguir e procurar primeiro onde almoçar. Dei umas voltas pela cidade para ganhar alguma orientação e conhecimento das zonas e acabei por jogar à defesa e optar pela Tele Pizza. Na porta dizia que se tratava de um hotspot PT Wifi mas a verdade é que lá dentro na havia rede alguma... comi uma pizza pequena com ingredientes que escolhi que nem sequer era nada de especial (nota mental: evitar a Tele Pizza no futuro) e fui até ao Hotel, que fica na mais alta encosta da cidade, por cima do Hospital Distrital. Por isso mesmo, a vista é fantástica, a perder-se pelo horizonte e só tenho a lamentar que o meu quarto fique de costas para a principal paisagem. Mesmo assim da varanda ainda vejo boa parte e o resto vejo a partir do lobby. Ao que parece há piscina e restaurante e também Internet sem fios paga que terei de utilizar para enviar este post para o blog. Mais tarde, talvez investigue o restaurante a ver se constitui alternativa para o jantar e talvez mesmo a piscina, afinal de contas lembrei-me de trazer os calções de banho e até uma touca, por ter lido que num dos hotéis que reservei é necessário touca para entrar na piscina.

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Quarto no Hotel Tryp Colina do Castelo, Castelo Branco

Outra coisa interessante e imprevista foi que decidi trazer a Playstation de Évora para Torres. Afinal de contas ainda faltam alguns dias de férias e já que lá passei... curioso foi ter estado no quarto do hotel ainda há pouco a jogar, pois a televisão apesar de pequena até tem entrada Scart ;-)

De resto, apesar de tudo, tal como sempre previ, a vontade é sempre de regressar à estrada e continuar caminho. Não tenho grande vontade de andar a vasculhar todos os castelos e museus já que o objectivo sempre foi o percorrer o caminho. Parar é quase só uma necessidade e pelo menos por enquanto os trajectos não têm sido suficientemente compridos para me ocupar um dia todo na estrada. É certo que estes dois primeiros dias também foram os trajectos mais curtos e que daqui em diante as coisas vão complicar-se até porque suspeito que as estradas vão ficar mais complicadas e sinuosas. Mas essa é boa parte da piada.

Amanhã, possivelmente ver a volta ao vivo no Alto da Torre. Receio que a confusão seja muita mas planeio ir cedo e ver no que dá. Quarta-feira, Paredes de Coura a partir das 18:00. E a exploração do Minho na quinta também é bastante apelativa. Finalmente, andar pelo Porto na Sexta e fazer o regresso a casa sempre à beira-mar. Parece-me bem.

[Mais tarde...] Ainda acabei por sair do hotel por volta das 18.30 com a intenção de ir a Monsanto (não é bem o mesmo lá de pé de Lisboa...) mas verifiquei que acabava por se fazer demasiado tarde. Até porque tanto quanto pude saber, para se ir ver Monsanto como deve ser - antes de Penamacor - é preciso andar bastante a pé. E isso, a estas horas, já era complicado por falta de luz mais tarde. Assim contentei-me em fazer uma rápida visita a Idanha-a-Nova, uma terra que achei simpática, em vias de forte desenvolvimento. Ainda me meti numas ruelas muito estreitinhas mas já estou mais que vacinado com o centro histórico de Évora. Procurei a dita Pousada da Juventude acabadinha de estrear mas tentei, tentei... e não encontrei. Será que se evaporou?

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Idanha-a-Nova

Diga-se de passagem que estou super contente com a aquisição da nova W35. É rápida, muito leve e a qualidade de imagem deixa-me espantada tendo em conta o segmento que é.

O plano agora é ir tomar um duche (ainda pensei em ir dar um mergulho na piscina interior mas desisti da ideia) que bem preciso e ir procurar jantar aqui no restaurante do hotel. Antes de sair há bocado vi a ementa no directório do hotel e surpreendentemente tem uma secção vegetariana com soja e tofu ao barulho. Acho que vou experimentar daqui a bocado e já não me posso demorar pois encerra às 22h.

Já agora, a Wireless aqui do hotel funciona na perfeição. Dizem que depois facturam junto com o preço do quarto. Confortável.

Amanhã há mais.

[Mais tarde] Bem, uma nota rápida porque o jantar foi absolutamente fantástico. A maior surpresa do dia e nem comi o menu vegetariano. Na ementa estava como sugestão do dia o "Polvo à Lagareiro" e decidi segui-la. Foi o melhor que podia ter feito, claramente o melhor polvo que já comi e as batatas e o tempero estavam divinais. Além disso, também como sugestão do dia, pedi um leite creme de sobremesa que também estava muito muito bom. E a cereja no topo do bolo foi o atendimento perfeito, por um negro que geria os restantes empregados e recebia os hóspedes. Muitíssimo simpático e sobretudo eficiente com toda a calma do mundo. E ainda me ofereceu o leite creme! Faz falta mais gente assim (eficientes, não é para me dar leite creme... :-)).

Sunday 12 August 2007

Agosto, 12 - Évora (156 Km)

E aqui estamos no final da noite do dia zero, depois dos primeiros 156 km percorridos numa espécie de aquecimento para a loucura propriamente dita. Decidi começar o périplo por Évora em parte porque queria passar por cá para levar algumas coisas que gostava de ter em Torres nos últimos dias de férias, em parte para ir o quanto antes para a estrada. Além disso a maior parte dos meus discos (aliás quase todos) estão aqui e alguns são absolutamente essenciais para a viagem.

Saí exactamente às quatro da tarde, depois de um almoço tardio mas ainda assim saboroso. Não sei porquê mas quando estou por minha conta em Torres "desoriento-me" bem mais do que o tempo todo que passo aqui em Évora durante o ano lectivo, especialmente em termos de horas para comer e dormir. Ainda ontem fazia planos de "puxar para trás" a hora de ir dormir de forma a poder orientar melhor o sono e poder acordar com facilidade mais cedo durante a próxima semana - por razões óbvias - mas o mais que consegui foi deitar-me ainda mais tarde... três e tal da manhã. Dormi até quase ao meio-dia mas também não quis saber. Hoje não estive minimamente virado para traduzir o que resta do FM e por isso vou ter de me sujeitar a ir fazendo durante a viagem. Vai ser certamente uma boa forma de ocupar algum do tempo "idle" nos hotéis.

O processo de fazer as malas foi extremamente fluído. Por norma gosto de levar sempre o menor número de coisas possível ou melhor dizendo o menor número de sacos possível. Quer isto dizer que se pudesse levar o mundo dentro de um só saco, pois levaria. Assim, ontem à noite construí rapidamente uma lista de tudo o que tinha de levar (aqueles caderninhos do chinês são o melhor, obrigado Pedro ;-)) e hoje foi só mesmo juntar tudo e ir riscando da lista. No final, bastou um saco grande, o backpack e a malinha de tiracolo.

Malas à Porta...
Meter as malas à porta... a mim próprio.

Quando estava a entrar em Évora ao final da tarde tive aquela sensação esquisita de parecer que vinha para regressar ao trabalho. Na verdade ainda falta mais uns dias e estou curioso para saber o que realmente irei sentir já que desta vez o que virei fazer é algo que motiva bastante apesar de antever muito suor. Mas essas são estórias para outra altura...

Para que este primeiro percurso de dia zero fosse já realmente dentro do espírito do resto, optei por fazer o caminho "cénico" tal como o viamichelin.com indica. Essencialmente consiste em ir pela ponte de Vila Franca em direcção a Porto Alto, Pegões, Vendas Novas e Montemor-o-Novo. Tudo normal, mas o itinerário indicava um troço por estrada municipal que eu desconhecia (imediatamente antes de Castanheira do Ribatejo) e foi interessante passar por aí. Feitas as contas, acaba-se por poupar cerca de 15 Km em relação ao caminho habitual pelas A8/A12/A2/A6 e também bastante dinheiro em combustível e portagens. Mesmo com algum trânsito, apenas "perdi" uns 35 a 40 minutos em relação ao habitual.

Tudo a Zeros
Tudo a zeros...

Em casa tudo na mesma, o Tiago está cá até terça e vai para casa de férias durante 15 dias nessa altura. Aproveitei para rapidamente orientar uma bolsa de CDs e um par de DVDs (Rush R30 e Score de Dream Theater). Vou levar a maior parte dos CDs que mais me marcaram na vida e acho que a banda sonora da viagem vai ser bem interessante, com garantias de evocar muitos sentimentos bons e maus. No fundo a ideia desta viagem é fugir para me encontrar. Sei que isto não é o remédio milagroso para todos os males e sei que é impossível levar os males comigo e despejá-los no rio mais longe que encontrar. Mas é levar a solidão ao extremo e no limite encontrar respostas e orientação. Não me posso queixar da vida que tenho porque sempre achei que fazê-lo seria realmente um total desrespeito por todos aqueles, sem rosto, que são muito melhores do que eu alguma vez serei mas que por muitas razões nunca terão também as mesmas oportunidades que eu. Por eles e por mim devo levantar a cabeça.

E porque sei que a maior parte das minhas tristezas e frustrações são baseadas na forma errada com que encaro tudo o que me rodeia, fujo na esperança de que uma experiência vincada e diferente me leve a perceber as coisas de outra forma. Estou farto de situações de choque e de não ser suficientemente bom actor para lidar com elas. Estou sobretudo farto de ter de me condicionar a cada passo para que os outros possam viver integralmente as suas vidas com as suas maneiras de ser tão próprias. A resposta tem de estar noutro lado.

Enfim, a coisa já vai longa e como quem não quer a coisa já passam 22 minutos da meia-noite. Se quero sair cedo, é melhor começar a pensar em ir fechar os olhos. O que me aguarda por ser decerto tanto a coisa mais entediante como a mais fascinante. Mais uma vez, creio que depende de mim e da sorte. Como disse o Pedro: "todas as viagens, mesmo que tenham volta são viagens de ida sem volta porque nunca se volta ao mesmo sítio, ao mesmo tempo, nunca se volta a mesma pessoa."

Eu sinto que preciso desesperadamente de ir e voltar outro. Por isso vou.

The Long and Winding Road
O caminho é sempre para a frente...